Uma abordagem em 13 tópicos que expõem o status de clássico do romance Moby Dick
Por Leonardo Campos no Plano Crítico | 27/05/2023
Por que Moby Dick é Tão Importante e Considerado um Clássico do Cânone Literário?
O romance se desdobra no desenvolvimento de Tubarão, de Peter Benchley, e, por sua vez, no filme homônimo de Spielberg. Quando descobri essa conexão em 2017, Moby Dick, já em minha prateleira desde 2008, acendeu um alarme. Algo do tipo: preciso descobrir esse livro. Depois, utilizei em sala de aula no Ensino Médio e, recentemente, com o lançamento de A Baleia, de Darren Aronofsky, meu interesse saiu da exclusividade diletante, indo também para a organização, uma espécie de sistematização daquilo que já tinha feito sobre o romance em críticas, comentários, para algo mais organizado. Além disso, o seu desenvolvimento dialoga com a ideia de múltiplas abordagens para a sala de aula, espaço para onde levo a literatura constantemente, mesmo quando não estou na aula de Linguagens, afinal, prezo por aumento de repertório vocabular e cultural. Moby Dick passeia pela crônica de costumes, ao descrever Nantucket. A classificação dos tipos de baleias flerta com o texto científico, a filosofia pode ser encontrada na irracionalidade dos seres humanos que compõem a narrativa, a voz do protagonista Ismael tem elementos líricos, num relato de viajante envolto numa redoma de aventura que nos permite aguçar a imaginação e ainda ser presenteado por traduções intersemióticas, haja vista a sua proposta pertinente para outras mídias.
Um Punhado de Biografia: Com Vocês, Herman Melville!
O escritor de Moby Dick nasceu em 1819. Ele era de origem inglesa e holandesa. Como a situação social de sua família ficou bastante complicada após o falecimento do pai, Melville teve que trabalhar para auxiliar no sustento da família. Bancário, vendedor de loja de peles e professor foram alguns de seus trabalhos. Atuou em navios de pesca baleeira e foi dessa experiência que conseguiu traçar muitas peculiaridades sobre as relações sociais e econômicas da época em seu livro. Publicou alguns livros, mas é mesmo conhecido pelo clássico volumoso sobre o qual estamos falando. Junto aos escritores Hawthorne e Whitman, ele é um dos transcendentalistas da literatura estadunidense. Por causa do descaso do público e da crítica com Moby Dick, Herman Melville frustrou-se com a literatura e foi viver outras experiências. Atuou como fiscal da Alfândega durante a Guerra Civil Norte-Americana, cargo onde se manteve por 19 anos. Faleceu no obscurantismo e teve a sua biografia e romance redescoberto pelos interesses intelectuais do século XX. A crítica desta época, por sinal, o tratava como “Homero do Oceano Pacífico”, delineando ainda a sua contribuição como precursor do existencialismo.
Moby Dick Foi Baseado Numa História Real?
O que encontramos no livro é uma versão romantizada da tragédia que acometeu os integrantes do Essex, o navio baleeiro que naufragou após as investidas de uma gigantesca baleia cachalote. É uma história terrível sobre homens que sofreram de desidratação, inanição e doenças. Após o navio afundar, ficaram no bote, foram morrendo aos poucos, tiveram que praticar canibalismo para ter o que comer. Dos vinte tripulantes, apenas cinco sobreviveram. O grumete Thomas Nickerson deixou alguns relatos publicados, tal como o imediato Owen Chase, figuras que serviram de base para a pesquisa de Nathaniel Philbrick, autor de No Coração do Mar, narrativa que relata em detalhes o acontecimento. Assim, a história sobre seres humanos colocados numa situação que testa os limites de sua sobrevivência funcionou como base para Herman Melville escrever o gigantesco Moby Dick. Com sua experiência como tripulante no baleeiro Acushnet, em 1841, o escritor unificou alguns dados levantados em suas pesquisas, bem como inspirações e desenvolveu o seu calhamaço. Na verdade houve um caso real de uma baleia chamada Mocha Dick, ferocíssima, que havia derrotado mais de 200 tentativas de mata-la na costa do Chile. Melville usou o nome adaptado. Isso tudo se transformou no romance que estamos analisando.
A Estrutura Geral do Romance
Em linhas gerais, Moby Dick é um romance sobre a saga do Capitão Ahab em busca de vingança. Ele deseja alvejar a baleia cachalote que leva o mesmo nome do livro, cetáceo que numa situação anterior ao desenvolvimento da história, arrancou-lhe a perna. Quem conta a trajetória de todos é o único sobrevivente, Ismael, o narrador que testemunha o naufrágio do navio Pequod, embarcação que segue com um propósito inicial, isto é, aquecer a economia baleeira de Nantucket, mas na verdade, é uma jornada pensada previamente pelo ardiloso capitão, nada interessado em óleo de baleia para enriquecer, algo almejado pelos demais tripulantes. O que ele deseja é punir a baleia e, neste processo, coloca a vida de todos em risco. Ismael, então, é uma referência de personagem na história da literatura. Seu nome, bem como o de tantos outros personagens, faz referência aos textos bíblicos. Há também um amontoado organizado de simbologias no desenvolvimento da aventura. A cor branca da baleia, por exemplo, é um dos tópicos mais estudados no âmbito da simbologia. Muita gente lê Moby Dick como uma batalha entre o bem e o mal, mas o mal não seria a baleia, mas talvez o Capitão Ahab, personagem constantemente delineado como o próprio Lúcifer. O que dizer da queda de Ahab para as trevas oceânicas após o embate com a baleia cachalote? Moby Dick é uma alegoria política: o Pequod é um Navio do Estado, com analogias recorrentes entre a jornada de caça às baleias e a expansão imperial dos Estados Unidos, e várias alusões ao conflito de classes e à escravidão (especialmente quando Ahab cria um laço com o menino negro do navio, o Pip). Isso tudo é Moby Dick: meio ambiente, debates sobre economia baleeira, o multiculturalismo representado na presença dos tripulantes. São muitos os temas e alguns deles exploraremos por aqui. Outras peculiaridades podem ser acompanhadas no livro Moby Dick: O Legado e o Impacto Cultural do Romance de Herman Melville, publicação que possibilitou este texto especial.
Noções de Literatura: Moby Dick e o Romantismo do Século XIX
As movimentações românticas na literatura deflagraram questões sobre nacionalidade, no geral, a construção da identidade de uma nação. Foi assim com o Brasil, por aqui tivemos o projeto literário de José de Alencar. Na França, Alemanha e demais países europeus, a mesma coisa. No contexto estadunidense, tinha-se na época uma nação em processo de desenvolvimento. Os Estados Unidos eram ainda recém-independentes, por isso, a literatura foi de fundamental importância para o estabelecimento de diretrizes acerca do que viria a ser o tecido social naquela época. O desenvolvimento do Romantismo foi diferente daquilo que outros países estavam fazendo no século XIX. Bastante fora da curva em relação aos europeus e nós, brasileiros. Em linhas gerais, nos principais estudos, você encontrará Walt Whitman, Nathaniel Hawthorne, Edgar Allan Poe e Herman Melville como principais expoentes deste período. Os estadunidenses se formavam enquanto nação, assim, a literatura precisa de um projeto para esse esquema de expansão. Os protagonistas do Romantismo nos Estados Unidos são figuras esféricas, moldadas dentro de um heroísmo e impregnados por significados míticos. Em linhas gerais, são personagens solitárias, mergulhadas em oceanos de incertezas, atarantados com os seus respectivos destinos misteriosos e cotidianamente tomados pelas incertezas de suas ações que refletem a carga de angústia em que estão durante suas jornadas. Os romancistas estadunidenses não buscaram se estruturar em modelos estabelecidos pelos europeus, ao contrário, criaram os seus novos padrões, expondo assim novas técnicas de criação. A maioria dos personagens românticos morre no final das histórias deste período. Olha o destino de Capitão Ahab, em Moby Dick, como um dos exemplos. Muitos anos antes da publicação do romance, em 1851, um ensaísta e político francês profetizou que um dos caminhos da literatura dos Estados Unidos era a celebração da natureza como representação, bem como a reflexão sobre as profundezas ocultas da natureza imaterial humana. Moby Dick, em suma, chamado de épico natural, uma abordagem magnífica do espírito humano na natureza primitiva.
Um Momento-Chave: O Famoso Sermão do Padre Mapple
O sermão de Mapple é um dos pontos mais marcantes do romance e as suas adaptações cinematográficas o incluem constantemente, sendo a versão de 19556, com Orson Welles, uma das mais celebradas. Esta cena é considerada uma das mais célebres da literatura mundial. A Peste, do existencialista Albert Camus, há referências na passagem do sermão do padre Paneloux. Ao longo do sermão, dentre as possibilidades interpretativas, o personagem expõe que as coisas têm significado muito maior que aqueles presentes na superfície. Em sua exposição, há considerações sobre destino, existência, postura cristã. Ele versa sobre Jonas, um profeta do Velho Testamento, teria recusado a missão de pregar contra o mal em Nínive. Ele tentou escapar do seu destino pelo mar, mas uma poderosa tempestade ameaçou o navio onde estava. Ao assumir para a tripulação que era a possível causa do fenômeno, pois Deus estava furioso com a sua atitude, os marinheiros o jogaram ao mare uma baleia branca (ou peixe de enormes proporções) o engoliu por três dias e o cuspiu depois que Jonas rezou constantemente pela sua libertação e aceitou a missão em Nínive. Ainda sobre o sermão de Mapple, temos um discurso que fala sobre desobedecer a si próprio, isto é, dominar as forças internas dentro de si mesmo. Ademais, além de se relacionar com o livro de Jonas, o romance Moby Dick também possui uma teia referencial com Jó, em especial, na questão da presença do “monstro” Leviatã. Compreender tais aspectos é entender melhor a malha textual deste romance grandioso.
Conexões: Herman Melville e Homero
A poesia homérica encontrada na Ilíada e na Odisseia retratam os desdobramentos imaginados da mitológica Guerra de Troia e do retorno de Ulisses para Ítaca. Astuto, mas arredio, o herói afronta Poseidon e, com isso, atravessa anos de dificuldades pelos mares gregos até conseguir retornar para a sua amada Penélope e seu filho Telêmaco. Ele enfrenta alguns deuses, monstros, situações inusitadas, numa proposta épica que encontramos, enquanto ecos, em Moby Dick, salvaguardadas as devidas proporções comparativas, afinal, estamos falando de ilações entre duas estruturas literárias diferentes. Em tom de epopeia, o romance tem traços característicos épicos, como por exemplo, o impulso aventureiro, a atmosfera belicosa e os atos de celebração de glórias, além da história a ser contada ter um caráter de relato monumental. As lendas e mitos homéricos, em Melville, ganham seu equivalente no tom enciclopédico do romance. Ambas os autores são essenciais, por mais que essa palavra possa parecer problemática, sabe? Ler Homero e Melville é adentrar por repertórios vastos, chaves para abertura de portas do conhecimento para manutenção da intelectualidade na contemporaneidade.
Moby Dick, Shakespeare e Guimarães Rosa: Ilações Trágicas
Li o romance de Guimarães Rosa na graduação. Foi uma leitura realizada ao longo de todo o semestre, numa disciplina sobre introdução aos estudos literários. Toda semana debatíamos algum aspecto do livro, tão grandioso quanto o romance de Melville. Ambos se conectam por tratar de personagens em fúria, movidos pelo ódio, imersos em situações de loucura e vingança. Li recentemente uma tese de doutorado que explica como as duas histórias dialogam com os desdobramentos das tragédias de vingança do teatro elisabetano. São tramas sobre personagens movidos por furor, momentos de tortura, traição, incapacitação no processo de domínio de suas paixões, incapazes de seguir qualquer conselho de quem os observa com razão. Esse é o destino de Capitão Ahab e de Riobaldo. A vertigem diante da queda, prevista desde as primeiras páginas, se estabelece com vigor momentos antes da catarse deles. Há, inclusive, aproximações com Hamlet, de Shakespeare, na maneira como os personagens contam a história para o leitor: eles não apenas narram, mas questionam, comentam, etc. Para melhor compreender, há uma colocação do filósofo Schopenhauer que diz ser a tragédia “uma ideia viva do fracasso das aspirações humanas”. É o que podemos contemplar em Moby Dick, bem como outros laços com a estrutura trágica, tais como rubricas e monólogos. Basta observar o capítulo “O Crepúsculo” e “O Convés”, duas passagens de hibridismo narrativo. Faria até uma comparação com o estupendo O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, romance com muitas similaridades, mas sairia do escopo já volumoso do encontro. Penso que se nós fossemos transformar tudo deste encontro num registro escrito, iriamos escrever algo tão extenso quanto o próprio ponto de partida literário, o romance de Melville.
Moby Dick e o Existencialismo de Albert Camus
Primeiro, precisamos compreender que não há apenas uma corrente do existencialismo, mas uma rede de pensadores dentro desta linha, situados em contextos e direcionamentos diversos. O que se relaciona com Moby Dick é o existencialismo de Albert Camus, autor que colocou o romance de Melville como ponto nevrálgico de sua corrente filosófica. Conforme as suas observações, o romance representa os absurdos da condição humana, impossibilitada de dar conta de todas as respostas que precisa para sobreviver. Em sua linha, o filósofo pensava que o homem é um ser incapaz de vencer a batalha da vida, se mantendo desconfortável num pedaço de madeira em meio aos oceanos de tormenta, à beira do naufrágio. O panorama, então, é entender a estrutura essencial da vida como uma constante de abandonos e recepções, como acontece com os personagens de Moby Dick, em especial, Capitão Ahab e Ismael. Revoltado com as coisas ao seu redor e com a sua condição depois do primeiro encontro com a baleia, Ahab não aceita a estrutura de sua realidade, por isso, resolve mudar as coisas, combatendo o alvo que simboliza esta sua ânsia por mudança. Ele é a pura representação de uma revolta que tem como meta a aniquilação da baleia, sem pensar em qualquer possível consequência.
Melville Múltiplo: Referências Contemporâneas Na Mídia
No romance, a baleia cachalote branca é perseguida pelo incessante desejo de vingança do Capitão Ahab. A ideia fixada de matar o cetáceo causa a destruição do navio baleeiro e, consequentemente, a morte da tripulação. No cenário da economia global, debate que envolve taxas altíssimas de juros, bancos quebrados, crises iminentes e outras situações, os economistas relacionam o romance de Melville com este tópico temático da seguinte maneira: Moby Dick e a falência dos bancos se conectam metaforicamente porque há, em ambas as situações, ficcional e real, respectivamente, a falta de controle e de responsabilidade. Ahab age de maneira imprudente, pensando em si próprio, colocando todos em risco, deixando o sentimento de culpa pelas possíveis consequências de lado. Da mesma forma, as instituições financeiras agem com falta de responsabilidade, estabelecendo instrumentos arriscados para lidar com finanças, sem plano de contingência adequado em caso de crise. Moby Dick é um romance que traz os perigos submersos no oceano, bem como na mente humana. Já os economistas dialogam com os perigos que ainda podem estar submersos dentro do processo de arrocho no esquema monetário global. Como já dito, o romance segue o padrão dos clássicos, isto é, atualiza-se constantemente.
Moby Dick e o Cinema: Qual a Melhor Adaptação?
Uma versão transversal que gosto muito é a aventura No Coração do Mar, de Ron Howard. É um filme que não é exatamente uma tradução de Moby Dick, mas uma adaptação do livro homônimo de Nathaniel Philbrick, publicada em 2001, narrativa sobre a sua pesquisa acerca do naufrágio envolvendo o navio Essex, material utilizado por Melville para a composição do romance. Não diria que o interesse seja pela atualidade dos efeitos visuais, mas convenhamos, para um apaixonado pela vida marinha, as cenas do cinema mais contemporâneo são deslumbrantes e atraentes. Há também preocupações filosóficas no roteiro, além de uma eficiente trilha sonora. Fora estas questões, para utilização na sala de aula, temos uma estrutura narrativa mais atrativa para os estudantes jovens. Em 1956, tivemos a adaptação de John Huston, também muito satisfatória, com Gregory Peck no papel do Capitão Ahab, com o ator num desempenho um pouco caricato, mas com muitas aproximações com o tom filosófico do romance. O texto e o seu desenvolvimento impõem aventura, mas ficam focados na filosofia dos diálogos e ações dos personagens. Há a bizarra leitura do estúdio Asylum, de 2010, uma produção trash que não deve ser desconsiderada apenas por ser muito ruim. Há o tom paródico de alguém que conhece profundamente o enredo, mas quis revirar o conteúdo em prol do padrão imposto pelo segmento. John Barrymore protagonizou as duas primeiras versões. A de 1930, sonora, toma o ponto de partida e estabelece uma série de liberdades, tal como a anterior, realizada quatro anos antes, trama focada no triângulo amoroso entre Capitão Ahab e seu irmão, homens que disputam o amor da filha de um reverendo, situação que é parte do esquema de tradução intersemiótica livre. Essa versão de 1926, inclusive, é uma produção que sabemos mais pela crítica da época, pois é de difícil acesso por meios oficiais. Podemos ler sobre, mas achar, legendado e num streaming por aqui é algo nulo. Daí, alguns recorrem ao You Tube, como eu fiz para escrever a minha análise. Em linhas gerais, todas as traduções possuem o seu valor e nos servem como guia para compreensão dos mecanismos que engendravam o cinema da época em que foram lançados.
Moby Dick, Meio Ambiente e Intervenção Humana: Ecos do Clássico no Contemporâneo
Primeiro, precisamos entender o contexto, para uma perspectiva interdisciplinar entre literatura e biologia. O óleo extraído das baleias servia para iluminação e lubrificação. A baleia cachalote, por exemplo, chega a ter dois mil litros de uma substância chamada espermacete, conteúdo de um órgão que pode chegar aos 40% do corpo de um desses cetáceos. Além disso, os caçadores desta economia utilizam o óleo extraído desses animais para fabricação de argamassa. As suas barbatanas, úteis na fabricação de espartilhos, também eram recursos valiosos, bem como o âmbar cinzento, presente em seu intestino, utilizado como fixador de perfumes. Entende por qual motivo era um negócio desmedido e rentável, mas destrutivo? Moby Dick é de uma época onde a caça às baleias era realizada sem preocupações estatais com a preservação ambiental. Não se pensava em ecocrítica como na contemporaneidade. Hoje, temos os marcos regulatórios, tais como a Convenção Internacional sobre a Pesca e a Conservação dos Recursos Vivos de Alto-Mar e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Até a metade do século XX, as preocupações ambientais eram muito focadas em problemas pontuais, de impacto imediato, geralmente localizadas, sem noção mais ampla. Mas, quando saímos das zonas costeiras dos territórios e avançamos rumo aos mares mais profundos, como lidar? Quem regula o quê e de qual maneira? A pesca das baleias não é algo apenas cruel, mas também danoso se pensarmos em algo dentro de um longo prazo. Sua presença no ecossistema é essencial para o equilíbrio da fauna e flora marinha. É todo um sistema que se desestabiliza quando a caça passa dos limites, como observamos em Moby Dick. Ademais, falando em questões biológicas, o livro é tão vasto que alguns pesquisadores apontam questões que antecipam as ideias evolucionarias de Charles Darwin, especificamente no capítulo 58, quando versa sobre canibalismo universal num diálogo de Ismael com o leitor.
O que pode ser encontrado em Moby Dick: O Legado e o Impacto Cultural do Romance de Herman Melville
Uma visão geral do impacto deste livro na cultura. Como filmes, games, músicas, cordéis, em linhas gerais, tantos suportes narrativos utilizaram Moby Dick como ponto de partida ou base para traduções intersemióticas. Há questões discursivas, objetivas, asserção/razão, complementação simples para o professor que desejar aplicar em sala de aula, ou então, para o estudante leitor interessado em testar os seus conhecimentos. Tudo isso que foi comentado durante esta entrevista estará no material, desenvolvido de maneira diluída nas diversas partes que ainda trazem análise dos filmes e séries sobre o romance de Herman Melville. No segundo álbum de sua carreira, intitulado Leviathan, a banda de rock Mastodon entregou ao público composições que emulavam elementos do livro, numa tradução da saga do capitão Ahab e da baleia cachalote no terreno da música. O conteúdo de Moby Dick também foi inspiração para uma série animada de Hanna Barbera, exibida entre 1967 e 1969, ressoando também em Adobe Dick, episódio dos Flintstones, noutro de Scooby-Doo, em várias situações paródicas de Os Simpsons. Para quem não sabe, a Starbucks Company ganhou esse nome por causa do interesse de seu fundador pelo romance de Herman Melville. Há também uma análise das trilhas sonoras dos filmes inspirados em Moby Dick, bem como de pinturas clássicas que se basearam no livro. Como disse o exigente Jorge Luís Borges, um grande nome dos estudos literários do século XX, Moby Dick é um romance infinito e, página por página, a narrativa se avoluma até alcançar o tamanho do cosmo. Aqui, abarcaremos apenas uma pontinha desta jornada. Concordo plenamente com Borges. Não há como não concordar, correto? Deus me livre de ir de encontro ao que Borges deixou como legado crítico. O “cara” era uma sumidade, escrevia brilhantemente, tal como filosofava.
LEONARDO CAMPOS
Tudo começou numa tempestuosa Sexta-feira 13, no começo dos anos 1990. Fui seduzido pelas narrativas que apresentavam o medo como prato principal, para logo depois, conhecer outros gêneros e me apaixonar pelas reflexões críticas. No carnaval de 2001, deixei de curtir a folia para me aventurar na história de amor do musical Moulin Rouge, descobri Tudo sobre minha mãe e, concomitantemente, a relação com o cinema.
Publicado originalmente no Plano Crítico
https://www.planocritico.com/entenda-melhor-moby-dick-o-legado-e-o-impacto-cultural-do-romance-de-herman-melville/