Há dezenas de milhares de anos, em todos os cantos da Terra, os seres humanos vêm tecendo para decorar a si mesmos e seus ambientes. Culturas separadas geograficamente desenvolveram individualmente suas próprias formas de tecer. Isso levou a uma rica variedade de expressão em todas as formas de tecelagem e em desenhos de tapeçaria, ferramentas e materiais.
Simplificando, em termos básicos, tapeçaria é uma peça decorativa de tecido que pode ou não ter outras funções. Em pesquisas arqueológicas, foram encontradas imagens representando tapeçarias, desenhadas em cerâmicas e esculpidas em pedra, que datam de 2500 aC. Homero menciona a tecelagem de tapeçaria em aproximadamente 700 aC, e o Antigo Testamento também se refere a essa forma de expressão criativa.
O poeta Ovídio descreve a tapeçaria, em suas Metamorfoses, aproximadamente em 8 DC; e na cosmologia dos Diné, do sudoeste americano, a criação é descrita como uma Mulher-Aranha tecendo o universo e transmitindo seu conhecimento de tecelagem.
A tecelagem de tapeçaria está solidamente enraizada no passado. A forma de arte da tapeçaria tecida traz à mente cortinas de tecido de tamanho monumental, desbotadas, retratando batalhas, unicórnios, mártires ensanguentados e as cortes dos reis.
A realeza e os patronos ricos encomendaram essas grandes tapeçarias, que eram uma maneira opulenta de comunicar status, mas também uma maneira de se comunicar com uma população amplamente analfabeta. As tapeçarias na Idade Média eram como as mídias sociais de hoje; elas podiam ser carregadas nas ruas para alinhar as rotas dos desfiles ou encher os grandes salões de entretenimento dos ricos, e suas imagens contavam todos os tipos de histórias.
Muitos assuntos eram bíblicos, incluindo a Tapeçaria do Apocalipse, cujos aproximadamente 1.000 metros quadrados de tecelagem ilustram o Livro do Apocalipse. Outras séries de tapeçarias, como as tapeçarias de unicórnios dos séculos XIV e XV, contavam histórias de guerras ou abordavam assuntos mais seculares.
As elites pagaram pelas tapeçarias e as usaram para decoração e comunicação, e para exibir sua considerável riqueza. A maioria dessas tapeçarias medievais agora passa seu tempo meticulosamente enrolada em coleções de museus, e um número desconhecido de tapeçarias há muito esquecidas de séculos atrás se desintegrou em pó em sótãos. Algumas das tapeçarias sobreviventes da Idade Média, como a enorme Tapeçaria do Apocalipse (tecida no século XIV e agora em exibição no Château d’Angers), nos fazem perceber o quão grande era a produção industrial de tapeçaria nos tempos medievais e continuaram sendo durante século XIX.
Essas monumentais tapeçarias reprodutivas eram primeiramente desenhadas por um artista que geralmente pintava um desenho em tamanho real e depois tecidas por artesãos habilidosos que copiavam a pintura. Várias oficinas, cada uma empregando muitos tecelões e quase sempre mantidas por patronos, podiam trabalhar por uma década para produzir um conjunto de tapeçarias. Algumas oficinas de tecelagem que operam dessa maneira ainda existem no mundo, notadamente a Australian Tapestry Workshop em Melbourne, a Manufacture Nationale des Gobelins em Paris e a Dovecot Studios em Edimburgo, na Escócia. Mas para a maioria dos praticantes de tapeçaria em todo o mundo, a criação neste meio seguiu o caminho do artista-tecelão, e a pessoa que cria o design também é quem tece o tecido final e, por isso, a tapeçaria continua a ser uma forma de arte viva.
Ao longo do tempo, as culturas que entraram em contato influenciaram as práticas artísticas umas das outras. Isso continua até hoje, e em nossa sociedade global esse compartilhamento de informações ocorre muito mais rapidamente. Por exemplo, nos Estados Unidos, a tecelagem de tapeçaria é praticada no Novo México Hispano, Diné, Mexicano, Sul-Americano, Asiático, Escandinavo e uma série de outros estilos de influência europeia. Às vezes, essas tradições permanecem distintas e, outras vezes, os artistas-tecelões misturam estilos.
A maioria dos tecelões de tapeçaria modernos tem o desafio de ser designers e técnicos. Nos Estados Unidos até no final do século XX, havia algumas oficinas de tecelagem especializadas em cartoons, conduzidos por artistas, mas, desde o fechamento dessas poucas oficinas, os tecelões americanos têm que criar suas próprias tapeçarias, na maior parte do tempo. A American Tapestry Alliance, fundada em 1982 por Jim Brown e Hal Painter, tem trabalhado arduamente para apoiar artistas-tecelões independentes neste novo mundo de trabalho individual.
Nos Estados Unidos os artistas-tecelões geralmente trabalham sozinhos em estúdios privados e tendem a criar obras de tamanho menor – na maioria das vezes menores que um metro quadrado – do que as tapeçarias monumentais da Europa. Essa expressão menor tem uma sensação diferente das grandes tapeçarias da Europa medieval, mas é administrável tanto para o equipamento normalmente encontrado em pequenos ateliês – oficinas doméstica -, quanto para as restrições de tempo da vida moderna.
Trecho de “The art of tapestry weaving: a complete guide to mastering the techniques for making images with yarn” de Rebecca Mezoff, publicado pela Storey Publishing, em 2020.
Referências
Sítio da United States Artists
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